Uma madrugada, uma qualquer,
das muitas que não dormi.
Foi nessa, a primeira que escrevi.
Noite 1
01:46 a.m.
A poltrona incomoda e o travesseiro mal apoia a cabeça. Quase consigo contar as voltas das pás do ventilador de teto. Não posso deitar. E não consigo dormir. Nunca consegui. Estou com sede...
02:55 a.m.
Penso demais, em muitas coisas. Mas não consigo me aprofundar em nada, será o cansaço?
Lá fora eventualmente passa um carro, alguém falando mais alto ou a cantilena de gatos no cio e cães atentos. As madrugadas são todas iguais, demoradas.
03:08 a.m.
Por que diabos não penso minha vida da forma normal, do passado para o presente? Só penso de frente pra trás. Atrapalha isso. Não põe em perspectiva o encadeamento dos caminhos da vida que levei até hoje. Qual a utilidade em lembrar da vida do presente pro passado?
Pelo menos já organizei algo na cabeça. isso foi legal.
04:49 a.m.
Breve soneca. Acordei vendo palavras e números flutuando na minha frente, fecho e abro os olhos novamente e estão lá. Flutuam, estão lá, mas não consigo decifrá-las! Não sei durante quanto tempo teimei em tentar entender esses símbolos. Me deu medo. será alguma espécie de aviso, mas que terei que decifrar? Sou péssimo em charadas, melhor deixar pra lá.
Na rua, o mundo começa a querer acordar...
05:37 a.m.
O filme que assisti ontem me deu vontade de passar a limpo minha vida amorosa, talvez as mulheres com quem casei, amei, deixei e sofri, expliquem quem sou hoje.
Teria alguma serventia saber isso? O que sou hoje, eu sou e ponto. Nada vai mudar com essa grande descoberta. Com certeza não sou muito bom, correto e nem muito mal, um crápula. Sou mediano, ordinário, fraco, comum.
E também estou com preguiça e com muito sono.
06:58 a.m.
O barulho da rua já esta no auge. Agitação normal de uma segunda-feira normal de trabalho, estudo e tal. Eu continuo na poltrona, parece que o tempo não passou. Meu braço dói.
E penso em como deve ser o amanhecer em Paris. Deve ser chique amanhecer em Paris, mesmo que nos subúrbios. Muito chique. Se é pra nunca dormir, poderia passar as noites em claro em Paris não? A cidade luz!
Ô viagem... viagem? Hummm...
08:30 a.m.
Nova pestana, despertei enjoado, torto... E acho que estou com torcicolo. Lembrei, não sei porquê, de minha Mãe. Minha irmã me disse que ela sofria de bipolaridade, picos de euforia e picos de depressão. Na época dela, isso ainda não tinha tratamento e nem sequer havia sido ainda descoberto esse distúrbio. Como deveriam ser as noites dela? Conseguia sonhar dormindo? Sonhos por vezes eufóricos, por vezes tristes? Dona Glória faleceu em 1977, era outubro. E foi num pico de absoluta tristeza em que ela se foi. O telefone toca. Vou ter que acordar.
Abraço fraterno!
Lex
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