domingo, 27 de novembro de 2016

Cenas Cariocas

Rio, 24/11/2016

Cenas cariocas:

Ônibus 608, Grajau-Saens Pena.
Entra uma mãe com seu filho, um menininho.
Como eu estava sozinho no banco, levanto para eles sentarem juntos e sento no banco ao lado.
O menino me olha muito, me observa.
Me cutuca e pergunta:
- O Flamengo joga hoje?
- Não. Joga domingo. Contra o Santos.
- onde vai ser?
- no Maracanã.
- e o Vasco?
- acho que joga sábado... contra o Ceará.
- ah tá...(sempre olhando pra mim...)
- vc tá indo pra onde?
- pro trabalho. Em Botafogo.
- vai de metro? Vai estar cheio?
- sim, de metro. E deve estar cheio sim.
(Ele sorri. Sua mãe me agradece com o olhar...)
Eu pergunto:
- e vc cara, pra onde vc esta indo?
- pra escola, eu estudo na APAE, sabia?
- que bacana! Ei, é pra estudar hein?!
Ele sorri e olha pra mãe. Que concorda com benevolência.
Meu ponto está chegando...
- já vou Raul (o nome dele é Raul).Tchau viu?! Legal falar com vc...
Aperta minha mão forte, sorri bonito novamente e diz:
- gostei também! Queria ser seu irmão! E você iria me arranjar uma namorada! ( todos riem no ônibus...)
 Apenas sorri e acariciei a cabeça dele. Subitamente recuperei um irmãozinho muito especial de 33 anos.
E ganhei meu dia com aquele sorriso.

Ê mundão... cheio de surpresas!
Algumas realmente muito legais...

Abraço fraterno
Lex

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Madrugada, Vinho, Pensamentos...

Oi!

Boa noite povo!

Vamos jogar conversa fora? Vinho?

Então, sou um cara de meia idade, separado há quase dez anos. E gosto de ser solteiro, gosto da minha vida hoje em dia. Na verdade, quer saber, não sei se gosto ou se estou acomodado, se fiquei muito exigente, se não sei mais amar (ou nunca soube...).
Fato é que estou com 49 anos e sou apenas Pai de duas adolescentes (uma das quais, a mais nova, não vejo há meses...), funcionário explorado de uma grande empresa em dificuldades, estudante, inconformado com os destinos que o País, a sociedade e o mundo vem tomando e, finalmente, um homem que a cada dia tenta achar um sentido nessa zorra toda...

Se as tive algum dia, acho que perdi minhas identidades. Descobri que sou descartável como Pai. Nos últimos dez anos a melhor desculpa para eu não me aprofundar em quase nada na vida e ficar flutuando na superficialidade de tudo, era justamente porque eu estava mergulhado na preocupação de ser um bom Pai full time. Isso me consumia e ocupava muito. Hoje? Não sei mais... Claro, me preocupo com elas, futuro e tudo mais. Mas não mais como antes. De certo modo sinto-me traído com a adolescência e o crescimento delas. E ao mesmo tempo abriu uma lacuna na vida que não sei o que fazer. Gandaia, mulherada? Não. já aproveitei muito na época da superficialidade. As filhas? Que nada, já decidiram que só sirvo para servi-las. O que resta?

Apaixonar-me, amar alguém, me dedicar? Sei não, parece que sou inteligente, crítico e cagão demais para isso. Gosto de duas mulheres, mas ambas estão em compassos muuuuuito diferentes do meu. E a racionalidade não me deixa arriscar algo em que a chance de me machucar ou do fracasso, seja grande. Mas fiquei muito orgulhoso de ter tentado. E apesar do fracasso (meio que entendemos sermos diferentes demais.), gostei de voltar a sentir algo próximo de amor, gostei de começar a imaginar planos futuros com uma outra pessoa. Mas não deu e voltei à estaca zero.

Bem, não me resta muito a não ser, a não ser... continuar achando ser um bom Pai e me preocupando muito com elas. Trabalhar e estudar muto, sair de vez em quando, continuar jogando meu futebol sem morrer de dor com os tornozelos ferrados, dar uma de garotão descolado e azarar as muitas "mina" que por incrível que possa parecer, ainda me dão carinho e um bom sexo casual... e pra finalizar, continuar me indignando com esse Brasil desigual, injusto e desmemoriado em que vivemos.

Se eu fosse rico me enquadraria na tal esquerda caviar da zona sul carioca? Aquele povo que dá uns "tapas" e discute a política nacional valorizando Lula, a CUT e os Sem Terra ao som do Midnight Oil ou surf music de meia idade, tomando scotch cowboy num apesão na Gávea? Nice! Ao menos a consciência política e o inconformismo ainda estariam ali. Pode-se ser rico e querer de verdade que todos sejam também!
Mas não. Sou pobre e represento fielmente muito mais o povão. Não me incomoda isso de ser pobre. Divertido até. Acho que pra mim não pesa ser pobre porque tenho total consciência de onde estou e porque estou. E isso só a mim cabe julgar, culpar ou exaltar. Ok, parece caô. Compreendo.

E compreendendo que poucos de vocês me compreenderão, vou deixá-los a pensar nessa minha conversa fiada, até porque o vinho fez efeito. Vou deitar e tentar dormir com meus pensamentos tortos. Talvez acorde na Austrália, quem sabe?

Beijo fraterno,
Lex